segunda-feira, 11 de outubro de 2010

INTENÇÕES, EXPECTATIVAS, EXPERIÊNCIAS, MEDOS E SONHOS

Trecho de meu relatório de estágio de matemática no ensino fundamental, escrito em setembro de 2009.


1.    Intenções x Experiências

Em virtude da minha grande vontade de continuar estudando, e também da facilidade que tenho em aprender matemática, e o gosto por esta ciência, decidi fazer o curso de Licenciatura em Matemática, porém sem intenção de atuar como professor.
Talvez o questionamento mais tradicional feito a uma criança seja sobre o seu futuro profissional, com aquela conhecida pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. Posso afirmar que professor nunca foi minha resposta. Sempre respondi que queria ser engenheiro civil, visto que sempre ouvi falar da grande carga de conteúdos matemáticos necessários para exercer esta profissão.
A verdade é que esta pergunta é feita para crianças, que em razão da sua idade e conseqüente imaturidade, a sua resposta não tem uma precisão total, e também não significa que será colocada em prática, porém ela já revela as áreas do saber que a criança mais se identifica (exatas, humanas, etc.).
Com o decorrer dos estudos no curso, os trabalhos de pesquisa, as disciplinas de metodologia, iniciação a prática pedagógica, a participação em eventos voltados à educação matemática, e o estágio no Laboratório de Ensino de Matemática da Facos onde dou aulas de reforço para o Ensino Fundamental e Médio em diversos projetos durante dois anos, fui despertando o gosto de ensinar.
A disciplina de iniciação a prática pedagógica para o Ensino Fundamental, ministrada pela professora Elena Chemale, me encantou. Ela com seu charme e irreverência em ensinar, e com a paixão que tem pelo ensino da matemática nos mostrou que ser professor desta disciplina pode ser muito gratificante. Sempre preocupada com nossa boa formação, nos deu subsídios e ferramentas para a abordagem em aula dos mais variados conteúdos.
Lembro até hoje da 14ª Quarta-feira da Matemática realizada em 2007, no grupo temático de discussão sobre educação matemática, onde eu relatei que tinha medo de estar diante de uma turma dando aula. A professora Elena prontamente disse que esse é o sentimento de grande parte dos alunos do curso quando irão realizar o primeiro estágio de regência. Porém também disse que com o tempo, com o exercício, muita dedicação, muita paixão, muitos passam a adorar dar aula. As falas da professora aquela noite me acalmaram, e também me encheram de curiosidade.
O tempo em que dei aulas de reforço no laboratório de matemática foi também determinante para vencer a barreira do “medo de ser professor”. O meu medo sempre era no sentido de não conseguir ensinar, porém realizando este exercício pedagógico e na prática ensinar matemática, acabei combatendo esse medo – que está diretamente ligado à insegurança, receio – com muita vontade e dedicação. Nessas aulas percebi que ensinar é realmente gratificante. Estar em contato com o aluno é ter uma grande responsabilidade nas mãos, mas também pode ser muito recompensador. Essa recompensa vem em forma de gratidão, em um relato simples de entendimento, dos resultados positivos obtidos, e até mesmo ao obter um bom relacionamento com o aluno.


2.    Alunos x Matemática

Muitos alunos afirmam não simpatizar com a matemática. Eu acredito que isso aconteça por duas razões:
·         A falta de esforço de alguns professores que não tornam as aulas interessantes e instigantes. É necessário fazer o aluno pensar, estimular a sua forma de raciocinar e valorizar o seu conhecimento.  Quando o professor se dedica, se prepara, e propõe aulas com diversidade de metodologias elas ficam mais atraentes, e isso não significa que perderá em conteúdo e responsabilidade.
·         Outra razão que implica nessa afirmação é a influência que os discursos feitos pelas pessoas (referentes à matemática) fazem sobre o pensamento e conceito do aluno em relação à disciplina. As pessoas comentam sobre suas experiências frustradas com a matemática escolar e assustam os outros que ainda não tiveram contato com ela. Os alunos são muitas vezes estimulados a não gostar da matemática. Em alguns momentos até mesmo o professor pode criar esta repulsa, quando faz comentários, colocando impedimentos ou dificuldades.


3.    Medos, Sonhos e Expectativas

As vésperas de entrar em sala de aula e assumir temporariamente uma turma no Ensino Fundamental, tenho medos, sonhos e expectativas. Minhas expectativas são as melhores possíveis. Eu torço para que seja um período tranquilo, não haja contratempo e que tudo seja para a aprendizagem e experiência. Quero que seja marcante como um primeiro estágio deve ser.
Quero compreender o aluno na sua individualidade, e em seu potencial intelectual, prestando atenção na forma que o aluno assimila o que é transmitido, na forma que ele se expressa, e sempre respeitando os conhecimentos que este carrega consigo.
Me sinto preparado no que diz respeito ao domínio do conteúdo. Considero que tenho uma boa comunicação para ministrar aulas, e possuo um fácil relacionamento com os alunos. Porém admito ter uma certa insegurança no que diz respeito à indisciplina, não sei como lidar com os comportamentos mais complicados, e conflitos em sala de aula.
Como se trata do primeiro estágio em espaço escolar, sinto um certo frio na barriga, não de medo, mas de ansiedade. O meu grande sonho é que essa seja uma oportunidade para poder despertar ainda mais o gosto pela educação. Como a professora Claudia Glavam me disse em seu grupo de pesquisa: “O mosquito da educação ainda vai te picar”.
Enfim, tudo começou com um simples desejo de não parar de estudar, escolhendo em seguida um curso voltado as minhas maiores aptidões. Com o amadurecimento durante o curso da idéia de ser professor, somado as experiências pedagógicas que tive até aqui, passei a ser um entusiasta da profissão a qual estou a me formar. Me sinto motivado por este desafio.
Em suas definições sobre experiência e sujeito da experiência LARROSA diz que a:
“experiência seria algo como um território de passagem, algo como uma superfície de sensibilidade na qual aquilo que passa afeta de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos. [...] o sujeito da experiência é um ponto de chegada, um lugar ao que chegam coisas, como um lugar que recebe o que lhe chega e que, lhe dá lugar.” (LARROSA, 2004, p. 160)

Quero que este estágio mude alguma coisa em mim, nos meus medos e anseios, que seja marcante (que deixe marcas em mim e nos alunos), que seja importante para a minha formação. Desejo que este estágio seja como a superfície de sensibilidade que Larrosa se refere, que produza alguns afetos e inscreva alguns efeitos na minha vida.
Se existe algum sentimento que torne os momentos de nossa vida emocionantes e inesquecíveis, este é o amor, vivendo cada instante com intensidade máxima. Como quero que este estágio seja emocionante e inesquecível, tenho que amar a docência, pois como diz D’AMBROSIO (1996, p 85) “educar é um ato de amor”.


Referências:


D’AMBROSIO, Ubiratan – Educação Matemática: da Teoria à Prática. Campinas – SP: Papirus, 1996
LARROSA, Jorge – Linguagem e educação depois de Babel  / Larrosa; traduzido por Cynthia Farina. – Belo Horizonte: Autêntica, 2004

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