sexta-feira, 10 de junho de 2011

O ensino de Física no Ensino Médio

O ensino de Física no Ensino Médio
Por Andrios Bemfica, Cassiana Alves e Silvana Pacheco
Pensamos na educação em diversos momentos de nossa vida, na política, na religião, nos grupos sociais. É um assunto polêmico e inquietante, visto que através dele muitos problemas poderiam ser parcial ou totalmente resolvidos. Sabemos a real importância da educação, e temos consciência do papel do professor neste processo.
O ensinar requer mais do que o domínio do que se ensina, requer a responsabilidade de se ensinar buscando resultados, instigando, questionando. As pessoas precisam sair das escolas, não sabendo somente calcular e escrever, tão pouco sabendo a capital de algum país do outro lado do mundo, precisam sair das salas de aula sabendo questionar, sabendo reconhecer, relacionar, criar, compreender e solucionar.
Dessa forma,

[...] a educação deve estar comprometida com o desenvolvimento total da pessoa. Aprender a ser supõe a preparação do indivíduo para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo, frente às diferentes circunstâncias da vida. Supõe ainda exercitar a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação, para desenvolver os seus talentos e permanecer, tanto quanto possível, dono do seu próprio destino. (BRASIL, 2000, p. 16)

Pensando nisto, muito se comenta acerca do ensino por competências e habilidades, onde é reconhecido o desenvolvimento do pensamento de cada um, sua capacidade de julgar e mobilizar conhecimentos para a resolução de situações. As competências estão ligadas ao que o aluno aprende e não somente ao que lhe é ensinado.
Tendo em vista o ensino de Física, podemos perceber a dificuldade relatada pela maioria dos alunos. O distanciamento da realidade faz com que estes não relacionem o que aprendem em aula com o que vivenciam fora dela. O acúmulo de fórmulas e a falta de construção de conceitos vão transformando a disciplina de física em algo desinteressante, difícil e pouco desafiador.
Um grande problema é que

O ensino de Física tem-se realizado freqüentemente mediante a apresentação de conceitos, leis e fórmulas, de forma desarticulada, distanciados do mundo vivido pelos alunos e professores e não só, mas também por isso, vazios de significado. Privilegia a teoria e a abstração, desde o primeiro momento, em detrimento de um desenvolvimento gradual da abstração que, pelo menos, parta da prática e de exemplos concretos. Enfatiza a utilização de fórmulas, em situações artificiais, desvinculando a linguagem matemática que essas fórmulas representam de seu significado físico efetivo. Insiste na solução de exercícios repetitivos, pretendendo que o aprendizado ocorra pela automatização ou memorização e não pela construção do conhecimento através das competências adquiridas. Apresenta o conhecimento como um produto acabado, fruto da genialidade de mentes como a de Galileu, Newton ou Einstein, contribuindo para que os alunos concluam que não resta mais nenhum problema significativo a resolver. Além disso, envolve uma lista de conteúdos demasiadamente extensa, que impede o aprofundamento necessário e a instauração de um diálogo construtivo. (BRASIL, p. 22)

Não podemos alegar culpas somente nas formas como os currículos são elaborados, tão pouco somente nos professores e suas formas de ensino, e nem mesmo somente aos alunos, desinteressados e dispersos; a realidade é que a educação é responsabilidade de todos, de quem a organiza, de quem educa, de quem aprende. Logo, o posicionamento de cada um implica em resultados e conseqüências significativas dentro da educação.
Nossa proposta visa fazer com que os alunos compreendam a física e se interessem por ela, através de atividades que promovam a interação entre conteúdos e alunos, que estes possam desenvolver os conceitos e perceber possibilidades dentro do tema proposto: a Ótica.
A Física é uma disciplina ampla e de fácil relação com a realidade, pois ela trata de explicar e compreender fenômenos que envolvem a natureza, a tecnologia, a ciência. Que criança ou adolescente não gostaria de compreender o funcionamento, ou o porquê dos furacões? Do som? Das cores? De diversas tecnologias? São assuntos extremamente interessantes quando tratados como tal.
 No estudo da Ótica, muitos são os recursos que podem ser utilizados visando explorar e garantir um efetivo aprendizado. Entre estes recursos podemos salientar os aspectos históricos que se mostram envolvidos. O estudo das lentes é decorrente de um longo processo histórico de pesquisa, rico em experimentos e construções que puderam beneficiar o que sabemos e pesquisamos hoje. Portanto, incentivar e explorar esta história garante aos alunos uma compreensão mais aprofundada e completa.
As atividades de experimentação também competem grande importância no ensino da Física, isto porque através das experiências os alunos podem perceber a realidade, esclarecer suas dúvidas, desmistificar e organizar pensamentos até então estruturados a partir de conceitos muitas vezes intuitivos.
Outra atividade que pode ser explorada para auxiliar a aprendizagem dos alunos é o mapa conceitual, muito abordado na teoria significativa de Ausubel, o qual permite ao aluno relacionar seus conhecimentos, criando uma espécie de ligação entre o que já conhece e o que acabou de conhecer.
Sua teoria trata-se de 

[...] um processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto especificamente relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo, ou seja, este processo envolve a interação da nova informação com uma estrutura de conhecimento específica, a qual Ausubel define como conceito subsunçor, existente na estrutura cognitiva do indivíduo. (MOREIRA, 1999, p. 153)

Ausubel propõe que os conhecimentos prévios dos alunos sejam valorizados em sala de aula, percebendo que, para se obter uma aprendizagem significativa, nenhuma forma de pensamento deve ser excluída. Na Física isto é extremamente importante, pois para se chegar ao que conhecemos hoje, muitos equívocos foram cometidos, embora tais equívocos tenham auxiliado na construção de um modelo mais abrangente e ainda assim passível de mudanças.
Mas não somente esta teoria permeia a educação. Para melhor compreender o desenvolvimento cognitivo dos alunos, sua forma de pensar e solucionar problemas, muitos pesquisadores, pedagogos e demais estudiosos se basearam e se baseiam em teorias que, embora não diretamente voltadas à educação, podem beneficiar e servir de subsídio para professores no processo de aprendizagem.
Entre elas as Teorias de Piaget e Vygotsky, que priorizam a construção mental de relações, a abstração, o conhecimento social e a interação entre sujeito e objeto. Ambas as teorias tem suas diferenças e particularidades.
Na teoria de Piaget, a abordagem construtivista acredita que as crianças aprendem através de suas ações sobre o ambiente, o conhecimento da criança e seu nível de pensamento são considerados fundamentais. Piaget, através de suas pesquisas a campo, pode desenvolver estágios visando analisar o desenvolvimento do pensamento e da inteligência das crianças e adolescentes e como e em qual momento determinadas noções são desenvolvidas.
Acerca do ensino de Física Piaget especifica que

[...] a experiência física consiste em agir sobre os objetos e descobrir as propriedades por abstração, partindo dos próprios objetos.Por exemplo, pesar os objetos e verificar que os mais pesados nem sempre são os maiores. (PIAGET, 1998, p.46)

Já na teoria de Vygotsky, prioriza-se o aprendizado através da interação entre pessoas e objetos, aceitação das diferenças, utilização de jogos e materiais.
Vigotski acredita que

[...] os conceitos se formam e se desenvolvem sob condições internas e externas totalmente diferentes, dependendo do fato de se originarem do aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal da criança. (...) Uma vez que os conceitos científicos espontâneos diferem quanto à sua relação com a experiência da criança, e quanto à atitude da criança para com os objetos, pode-se esperar que seu desenvolvimento siga caminhos diferentes, desde seu início até sua forma final. (VYGOTSKY, 1993, p.74)

Vygotsky acredita que a relação da criança com seu ambiente cultural é extremamente importante para o desenvolvimento da inteligência.
Segundo Piaget, adolescentes no ensino médio estão em seu estágio operatório formal, sendo nesta fase da adolescência que a noção de pensamento abstrato já está presente.
 O adolescente passa a levar em conta as hipóteses possíveis, adquire capacidade de pensar cientificamente, de perceber e discutir valores. Esta fase é o ápice do desenvolvimento cognitivo, não significa dizer que nada além será desenvolvido, mas sim, que o padrão intelectual que persistirá na idade adulta está concluído.
Neste momento surge

[...] a conquista de um novo modo de raciocínio, que não incide exclusivamente sobre os objetos ou as realidades diretamente representáveis mas também sobre as “hipóteses”, isto é, sobre as proposições de que é possível tirar as necessárias conseqüências sem decidir de sua verdade ou falsidade antes de ter examinado o resultado dessas implicações. (PIAGET, 1998, p.41)

Através destas teorias podem-se repensar as formas de avaliação atuais, tanto no ensino de física, como nas demais disciplinas. É importante avaliarmos o que o aluno realmente sabe, não somente através de provas, onde o nervosismo muitas vezes impede que consigamos explorar o máximo de nossos alunos, mas também através da convivência, das relações e de tudo o que percebemos que estes desenvolvem no decorrer das aulas. Trata-se de uma avaliação continuada, e não estagnada a momentos de pressão.
A educação não é uma tarefa fácil, nem tampouco impossível, sempre haverá dúvidas, novas teorias, pensamentos inovadores e tradicionalistas que defenderão seus pontos de vista. Mesmo assim, cabe a cada um perceber a necessidade de mudança e de ensinar para a inserção de pessoas dentro de uma sociedade.
Portanto a questão “Que sociedade queremos ter?” possui a maior parte de sua resposta dentro da educação. Só que a efetividade desta resposta depende de diversas pessoas, de diferentes personalidades; ninguém aprende da mesma forma, ninguém acredita nos mesmos ideais. Portanto não existe um modelo teórico único, um molde que podemos aplicar para todos e obtermos os mesmos resultados, mas sabemos que a aprendizagem depende também do que somos e queremos ser, e é isso que devemos ensinar.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio) – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 1999
Disponível em:  portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf
Acesso em: 23 de maio de 2010

PIAGET, Jean. Psicologia e pedagogia: a resposta do grande psicólogo aos problemas do ensino. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.

MOREIRA, Marco Antônio. Teorias da aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.

VYGOTSKY, Lev Semenovictch. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

PCN+ Ensino Médio: Orientações Curriculares Complementares ao Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, SEMTEC,2002 – In: Sociedade Brasileira de Física;
Disponível em: www.sbfisica.org.br/arquivos/PCN_FIS.pdf
Acesso em: 23 de maio de 2010


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