No dia 25 de março de 2011, os alunos da turma 6º ano A da Escola Municipal de Ensino Fundamental General Luiz Dêntice, acompanhados pelo professor de matemática Andrios Bemfica dos Santos, realizaram uma visita a propriedade do Sr. João Batista. Esta visita fez parte do Projeto Festa da Produção, onde escolas de Tramandaí adentraram em algumas das 120 propriedades rurais do município, localizadas no distrito de Estância Velha.
Na propriedade visitada pela turma é realizado o cultivo de gramas para comercialização. Os alunos puderam observar em loco como é realizado a plantação, quais tipos de gramas são cultivadas, como é feito o tratamento, o processo de colheita e de comercialização, e quem são os principais compradores. Além de questões sobre o cultivo e comercialização de gramas, os alunos visualizaram de perto como é a vida no meio rural, e quais são as diferenças para quem vive no meio urbano.
A propriedade do Sr. João Batista
A propriedade visitada pela turma pertence à família do Sr. João Batista desde 1982, e foi passada de geração em geração. A área aproximada da propriedade é de 43 hectares, porém somente 12 hectares são destinados a plantação de gramas. Algumas espécies de gramas são cultivadas na propriedade, dentre elas estão a esmeralda e ferrinho.
A expansão do ramo imobiliário no litoral norte gaúcho tem aquecido o comércio de gramas na região. Os principais compradores das gramas plantadas pelo Sr. João Batista são os inúmeros condomínios que se instalam nas cidades vizinhas e em Tramandaí. Segundo o próprio produtor, neste último verão a demanda do comércio foi maior que a produção, provocando assim a falta de grama. O comércio de gramas nos últimos anos expandiu tanto que o produtor já adquiriu novas terras para aumentar a produção, agora em solo Osoriense.
O processo de colheita também sofreu algumas mudanças desde que ele começou a plantar gramas. No início era utilizada uma pá de corte para a retirada das leivas de grama do solo. Como esta ferramenta é reta, era necessário que a pessoa que fosse realizar o corte da leiva marcasse as laterais verticalmente, e em seguida fizesse o corte horizontal. Como este processo demandava tempo, foi desenvolvida uma pá de corte com um disco côncavo anexada em sua base, o que tornava o trabalho mais prático, pois dispensava as marcas verticais. Assim era necessário apenas um corte horizontal para a retirada da leiva de grama.
Mas a evolução não parou por aí. Na década de 90 o Sr. João Batista adquiriu uma máquina que realiza a colheita de leivas com a medida de 33cmX33cm, o que facilitava a comercialização do metro quadrado de grama. Com a aquisição da máquina, a colheita de gramas passou a ser mais ágil e rápida.
Na oportunidade os alunos também perceberam as diferenças entre a vida no meio rural e urbano, já que muitos nunca haviam visitado propriedades fora do contexto da cidade. Alguns alunos relataram durante o passeio sobre o silêncio da localidade e a tranqüilidade que pairava no ar, enquanto outros repararam em sons antes não percebidos com tanta nitidez, como o canto dos pássaros e o vento soprando nas árvores. A vida serena e tranqüila do campo contrastando com a agitação da cidade, tudo isso a pouco mais de 10 quilômetros de distância.
A Matemática na produção de gramas
Na oportunidade da visita, os alunos puderam percebam que a matemática está ligada as práticas sociais, e sua origem é proveniente das necessidades do ser humano no exercício de suas atividades. Assim é interessante destacar que
[...] os estudantes se conscientizem do papel da matemática em todas as sociedades. Eles tomam consciência que as práticas matemáticas nascem das reais necessidades e interesses dos povos; os estudantes aprendem a apreciar as contribuições de culturas diferentes das suas e a valorizar a sua própria herança cultural [...] (ZASLAVSKY apud KNIJNIK, 2006, p.135).
Portanto, esta visita passa a ter um caráter de contextualizar os conhecimentos matemáticos vistos na escola. Tanto o educador quanto os educandos passaram a ser pesquisadores, percebendo onde estes conhecimentos estavam inseridos na prática laboral destes trabalhadores. Desta forma, a problematização e o estabelecimento de relações entre os saberes curriculares e aqueles que são utilizados nas experiências cotidianas deste grupo de trabalhadores, pode ser feita em sala de aula, tornando o conhecimento matemático contextualizado e significativo para o aluno.
Conhecimentos matemáticos envolvidos na produção de gramas
Alguns conceitos e conhecimentos matemáticos estão presentes no processo de cultivo, colheita e comercialização de gramas na propriedade do Sr. João Batista. Dentre eles é importante destacar a definição de medidas de superfície (área), para delimitar o espaço ocupado pela propriedade no território da cidade e para saber qual o espaço destinado para plantação de gramas.
Como a propriedade possui 43 hectares, a superfície desta mesma propriedade em m² corresponde a 430 000 m².
Já a área destinada a plantação de gramas é de 13 hectares, o que representa menos da metade da área total da propriedade. A superfície desta mesma propriedade em m² corresponde a 130 000 m².
A comercialização das gramas é feita por m². Para isto as máquinas cortam leivas de 33 cm X 33 cm, e para formar 1m² é vendido 9 leivas. Mas, por que esta medida, e esta quantidade de leivas? Para compor um metro quadrado com nove leivas, basta extrair a raiz quadrada deste número. Assim, saberemos quantas leivas devem ser colocadas em cada lado do metro quadrado.
Então deveremos dispor 3 leivas na horizontal e 3 leivas na vertical, o que resultará nas 9 leivas que irão compor o metro quadrado. E para sabermos qual será a medida de cada leiva deveremos dividir 1m em 3 partes.
1m possui 100 cm, e estes 100 cm divididos em 3 partes iguais resultam em 33 cm. Observe a divisão: Desta forma, cada leiva terá 33 cm de lado, e haverá uma sobra de 1 cm em cada lado. Esta diferença é desprezível quando as leivas forem dispostas para o plantio, pois a grama irá compor rapidamente este espaço.
Outras noções matemáticas envolvidas em sua prática laboral estão relacionadas ao processo de comercialização das gramas.
Video elaborado com os registros fotográficos da visita a propriedade rural
Referência Bibliográfica
KNIJNIK, Gelsa. Educação matemática, culturas e conhecimento na luta pela terra. – Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006
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